Como a típica paulista que sou, reconheço o fato de ser uma “pessoa que anda rápido demais”, ideia essa que pode associar tanto a mim quanto aos seres ao meu redor a um conjunto de pessoas imediatistas e ansiosas que buscam seus objetivos com alvoroço e, as vezes, expectativas demais. Ter altas expectativas e pressa para conquistar o mundo pode nos afetar negativamente ou apenas visualizamos de maneira irreal o que achamos certo para nós e caímos com força caso algo saia do esperado?
Segunda “As Vantagens de Ser Invisivel”, nós deveríamos aceitar o amor que achamos merecer. Mas que amor seria esse, afinal? Pensando nisso repetidas vezes em meu quarto, o que me faz sempre cair em paixões tão dolorosas? Eu não acho que eu me odeie a este ponto, achar que mereço sentir angústia ao pensar em alguém, mas essa paixão sempre retorna feito furacão. Então, por que continuo estando perto de pessoas que me deixam paranoico e necessitado de tantas afirmações? — Seria eu uma garota naturalmente cheia de necessidades desnecessárias?
Me lembro da primeira garota que eu gostei, a sr. K. Ela era loira, tinha umas bolsinhas debaixo dos olhos que a deixavam muito charmosa quando sorria. Charmosa o tempo todo. E suas roupas eram unicas em toda aquela escola. Hoje ela namora um homem, mas me fez as juras de amor em cartas de papel paltado mais lindas que eu já li. Passamos o halloween daquele ano juntas, e eu confiava cegamente nela. Tão cegamente que ela beijou duas amigas numa cabine de banheiro enquanto eu a esperava do lado de fora. Ter sabido dessa história dias depois me fez surtar: O que exatamente eu esperava receber dela? ou pior: Como eu poderia confiar nela?
Minhas expectativas sempre foram altas demais. O contato com contos de outras pessoas nas redes sociais, vivências que jamais se encaixariam em nossa vida, histórias quase tão mal contadas que chegam a ser realistas, parecem martelar em minha cabeça sempre que alguém parece distante de mim. Me comparo, choro e desejo mais do que declarações simplistas. Eu quero me sentir amada, desejada e entendida, como se minha voz ecoasse na cabeça de quem amo e reverberasse por todo o seu ser. Pessoas espalham boatos, prints de conversas sem contexto e sentem coisas que nunca ao menos verbalizam, como se saber demais fosse o motivo pela ausência de paz em nosso ser. As vezes eu gostaria de ser ignorante e deixar as coisas serem, sem querer resolver nada. Ter altas expectativas me torna paranoico e ansioso perante a tudo que eu escolho para mim, perante ao que eu escolho ouvir e acreditar. Como se qualquer deslize meu fosse tornar meu amor menos apaixonado por mim.
É necessário impor limites em tudo, especialmente em relações com outras pessoas. Mesmo amizades podem acabar com a sua sanidade mental, já que tudo pode ser arriscado se você for ansioso o suficiente. Ninguém deveria permanecer em ciclos onde não lhe cabem, independente de quem esteja ali. Ninguém deveria permanecer com alguém que o faz sentir insuficiente, ignorado ou solitário; mas eu fico. eu insisto. eu luto como se fosse uma guerra contra algo jamais dito. eu sinto que eu mereço cada tostão da falta de carinho que já recebi. Mas então, deito e penso amargamente: eu não deveria me culpar tanto assim por não ser a pessoa favorita de alguém.
Assim como Franz Kafka dizia: “Tento constantemente comunicar algo incomunicável, explicar algo inexplicável, falar de algo que sinto apenas em meus ossos e que só pode ser experimentado nestes ossos…” Isso é, será que em algum momento alguém me entenderá sem que eu precise revirar-me do avesso para ser compreendida?
Lembrando da sr. K, tivemos momentos de paranoia multipla graças a beleza horrenda da irresponsabilidade afetiva. Ser responsável afetivamente é, acima de tudo, ser sincero e coerente; não deixar frestas, ser direto e claro em referencia as suas ações. Se a sr. K tivesse me dito que eramos nada mais do que beijinhos e declarações com fundos de mentira, teriamos ido tão longe?
Me lembro de tardes sentado em frente a este notebook, choramingando quando ela me disse que éramos igual a um casal de um desenho que amavamos tanto, She-Ra. Eu era a Catra. E sinceramente? Acho que só comecei a me identificar depois que minha Adora seguiu o caminho dela. Eu aceitei ser algo que nunca fui apenas por ela. Quando somos tagarelas mentalmente, pensamos sempre no fim, mas nunca no agora: Como eu posso arrumar isso agora para evitar futuros desentendimentos? Mas afinal, o que eu deveria arrumar? Eu sempre estou tentando consertar coisas que não quebrei, conversar sobre sentimentos que nunca passei, aconselhar pessoas sobre coisas que jamais pensei. Estar sempre tentando oferecer o máximo de mim não é irritante? Estar sempre falando tanto, puxando tantos assuntos e tentando a todo custo não deixar o clima morrer me torna irritante?
Eu não podia deixar de me perguntar se essa era a definição de amor que eu realmente acreditava, se eu precisava me esforçar tanto assim para fazer alguém me amar.